sexta-feira, 23 de julho de 2010

Festival Ver e Fazer Filmes

O Festival Ver e Fazer Filmes, promovido pelo Instituto Cidade de Cataguases, em parceria com a Fundação Ormeu Juqueira Botelho iniciou suas atividades para a edição de 2010 com oficinas temáticas para a comunidade e profissionais do meio artístico. Um dos temas, Roteiro, teve como aluna a bibliotecária Míriam Silva. Ela trabalhou um dos contos de Luiz Rufatto, escritor cataguasense que é fonte de inspiração para as atividades do festival. Na história redigida por Míriam, o leitor vai conhecer o destino de algumas mulheres que viveram na Ilha,  zona boemia em Cataguases, nos idos dos anos 60. "Meu interesse é engrandecer essas mulheres, torná-las humanas, mulheres comuns, aos olhos das pessoas".

Segue abaixo o conto desenvolvido por Míriam, durante uma conversa com este jornalista:


Toda Maria tem História...


Escrito nas telhas, amparadas pelos caibros, “Cerâmica Santa Teresinha, Bandeira Nova, Estado de Minas”, decorou, cabeça afogada no capim do colchão da cama de casal, sempre ele bufando em seu pescoço... Meche vagabunda! Meche!!! E ela a ler as telhas... Que merda! Meche PÔRRA!!! VADIA! Não te tirei de um puteiro para me servir desse jeito!!!E a porrada a descer em sua cara.

Manhã de domingo, Maria Aparecida, Cidinha, sentada na sala de triagem da casa de abrigo a mulher que sofre violência doméstica. Aguarda sua amiga de velhos tempos a Maria do Rosário, hoje Irmã Rosário, pois após a ilha fechar as portas, tornou-se freira e lidera os trabalhos contra a violência à mulher na cidade.

Cidinha com a cara arrebentada lembra-se dos velhos tempos e das amigas de vida. São todas Marias.

Maria Aparecida, ela que muitas vezes quis ser a desaparecida, pois se juntou com um alcoólatra que era seu cliente na Ilha.

Maria do Rosário a mais boazuda, que resolveu largar a vida e casar com Jesus.

Maria do Socorro, a que sempre cuidava das gonorréias e outras doenças no casarão aonde viviam. Largou a “boa vida” e fez curso Técnico de enfermagem e é voluntária em uma ONG que cuida de moradores de rua.

Maria da Glória foi para São Paulo e casou-se com um Paraibano que é porteiro na capital. Devido às várias doenças que adquiriu no prostíbulo, perdeu seu útero e não teve filhos. É feliz no casamento e trabalha como babá.

Maria da Luz casou-se com um agricultor e foi para a roça. Morreu em casa no parto do 15º filho. A filha mais velha foi para a cidade grande e já faz a vida para ajudar a criar os irmãos...

Maria Rosa tornou-se operária e trabalha na fábrica de tecidos. Solteirona é boêmia e conserva alguns hábitos dos áureos tempos da Ilha. De segunda a sábado ás 14:00 horas, troca de turno da fábrica, no vestiário atende do diretor ao faxineiro, da fiandeira à estilista, Rosa realiza todos os fetiches. Aos domingos tira folga e trabalha como voluntária com sua grande amiga, Irmã Rosário.

- Cidinha! Tá com a cara arrebentada de novo? Larga esse filho-da-puta, um dia ele ainda te mata! Disse Rosa entrando no abrigo.

Miriam Suzana da Silva

Inverno de 2010

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