domingo, 27 de junho de 2010

FERNANDA GODINHO

Fernanda Godinho tem 27 anos, é atriz e palhaça. Neste ano de 2010 completa quinze anos de profissão e tem tantas histórias para contar... Dos palcos de Cataguases aos corredores do hospital da mesma cidade, ela traça seu caminho com otimismo e criatividade. No momento atual, Fernanda paz palhaçaria (ela dá vida á palhaça Jujuba) e aproveita para colocar em prática os estudos sobre a arte do clown, sem perder o interesse e os planos para os trabalhos de artes plásticas.

JC: Você é formada em História da Arte? Por que?
FERNANDA: Porque tenho interesse pela arte em geral, pela história, não só a dramaturgia, mas a arte em todas as suas ramificações.Entender desse universo é importante para o fazer artístico.

JC: O que é esse "fazer artístico"?
F: É a criação. Seja criar um espetáculo, uma obra de arte, é o ato.

JC: Há quanto tempo você atua como clown?
F: Hum... Faz tempo que alguém não me faz essa pergunta. Mas o palhaço está na minha vida há dez anos, tem uns sete anos que comecei a fazer cursos, me especializar profissionalmente, conhecer outras pessoas e referências.

JC: Nesse tempo, o que mais lhe emociou?
F: O trabalho de doutor palhaço. é algo muito vivo, me realiza. Quando descobri meu palhaço, eu paralelamente trabalhava no hospital de doutor palhaço, embora seja uma atuação mais direcionada.



JC: Isso, eu vejo você estudar psicologia. Tem relação essa busca com o doutor palhaço?
F: Nossa... Tem tudo a ver, a relação é tão grande que rendeu minha tese de pós graduação, que discute a percepção do palhaço no hospital. Com o conhecimento em psicologia você consegue achar um ponto, enxergar por outro lado, amplia a visão. Quando você vê uma pessoa doente, você pensa na doença, mas o palhaço vai além, ele enxerga a pessoa e não a doença, porque aquela pessoa tem algo saudável, como as lembranças e outras coisas, isso é importante, a pessoa que está no hospital, tem uma doença, mas ela também tem algo saudável, é o outro ponto que eu disse.

JC: Como é trabalhar no hospital, no meio da dor e da tristeza? Como você saí do hospital depois do trabalho?
F: A sensação de sair do hospital é melhor do que a sensação de quando você entrou no hospital. Existe uma troca de energia e o artísta neutraliza a energia ruim. Conseguimos isso com muito trabalho corporal e espiritual.



JC: Espiritualidade. Como você lida com a sua?
F: Vivo o momento. Eu gosto da natureza porque a vida se resume nisso e a arte está ligada a isso, lembra nossas origens e aí a gente lembra das coisas simples.



JC: Você também tem um trabalho de atriz, não é?
F: Sim, nesse ano completo quinze anos de carreira.

JC: Cite alguns trabalhos que lhe marcaram como atriz:
F: O espetáculo Lona de Luz, uma versão de O Grande Circo Místico, interpretei a Lily Anjo Azul, mas também fiz a adaptação do texto, ajudei na direção, foi muito bom porque trabalhei voz, corpo... Também o espetáculo Os Saltimbancos, que me deu uma formação musical e muito entusiasmo, e ainda uma peça para adultos chamada Nunca Sem Poesia, foi minha primeira experiência de produção independente e profissional.

JC: Como é ser uma atriz no interior de Minas Gerais?
F: Cataguases proporciona oportunidade. Sou atriz aqui e tenho a oportunidade de estar inserida no contexto, as produções que escolho trabalhar tem a ver com o que está acontecendo no mundo. Em Cataguases temos um bom público.

JC: Quais ou quem são suas referências?
F: Em Cataguases, o Marquinhos. Outra grande referência são os Doutores da Alegria e alguns palhaços, como o Márcio Libah e seu palhaço Cuti Cuti. Tem ainda As Maria das Graças, elas são grandes referências pro meu palhaço.

JC: Quais os seus planos para o futuro?
F: Um trabalho mais independente, estou planejando e começando a concretizar algo que envolva tudo, o palhaço, as artes plásticas, junto com meu marido Emerson Morais, que também é palhaço e artísta visual.

JC: Então dá pra viver de arte, de cultura nesse país?
F: Dá pra viver de cultura e ser feliz. O artísta está sempre na corda bamba, mas todo mundo tem que equilibrar na vida, né?

JC: Pra finalizar, o que ficou desses quinze anos de profissão? Qual sua maior lembrança?
F: O mais importante é a satisfação de vivenciar cada dia, cada cena, cada aplauso e sorriso num momento de felicidade que se estende ao próximo.