sábado, 15 de setembro de 2007

Leia, veja, ouça

LIVRO: O cadáver ri dos seus despojos de Carlos de Brito e Mello
É uma coletânea de contos. Escrito em um português impecável e estimulante. O livro foi lançado esse ano em Belo Horizonte e também em Caratinga, mas os contos datam de 1998 a 2003. Como o próprio nome sugere, O Cadáver possui uma narrativa às vezes tensa, às vezes reflexiva, mas sempre sensível, com o foco nas dores particulares de cada um de seus personagens, dores que são tão reais, que ao ler os contos é impossível não imaginar uma situação verdadeira. Destaco o conto Homens Enfermos, em meio à leitura cheguei a pensar que eram relatos sobre um antigo vizinho de infância; para mim os contos revelam situações que podem estar acontecendo atrás de qualquer parede, de qualquer casa ao andar pelas ruas.



FILME: Diários de Motocicleta dirigido por Walter Salles


O filme da minha vida. Mas a história é um relato verídico das aventuras de Che Guevara e de seu amigo, Alberto Granado. Os dois, em meados dos anos 50, se aventuram pela América Latina em uma motocicleta, carinhosamente apelidada de A Poderosa. Durante a longa jornada, os amigos enfrentam diversos problemas e descobrem um quadro generalizado de miséria e opressão política, que seria fundamental na formação ideológica de Che. Além das paisagens surpreendentes o filme possui uma trilha sonora simples e encantadora. Toda a história saiu dos diários escritos pelos dois amigos durante a viagem, daí o nome da obra.



MÚSICA: Só Nós de Paula Toller


Conhecida pela sua bem sucedida carreira pop, a líder do Kid Abelha brinda os ouvidos mais apurados com seu segundo CD solo. A sonoridade das canções foi buscada na música produzida nos anos 30, 40, e unindo isso à influência do rock dos anos 70, ainda com a bossa nova e o samba, Paula conseguiu organizar todos os instrumentos e sua voz melódica em músicas que dispensam os malabarismos de efeitos digitais, tudo foi gravado como se fosse ao vivo, à moda antiga e o resultado são canções de composições e ritmos inovadores, a cantora também procurou parceiros fora do habitual e isso permitiu um som eclético. Só Nós é muito diferente dos últimos lançamentos musicais brasileiros, é intimista, como uma conversa entre quem ouve e quem canta. Um prazer para quem gosta de boa música.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

“O CINEMA ME ESCOLHEU ”



Perfil: MARIA DAS GRAÇAS SENA


Maria das Graças Sena é um dos maiores nomes do Cinema Nacional. Ela passa a maior do tempo entre as viagens, ocasionadas pelo ofício da profissão, o sono tranqüilo e forte no seu apartamento no Rio de Janeiro e as saborosas horas de trabalho na Scena Produções; produtora de cinema e vídeo, mantida em parceria com a amiga de longas datas, Tizuca Yamazak, também cineasta. Sena confessa: “O cinema me escolheu”. Nessa entrevista, realizada nas dependências das Faculdades Integradas de Caratinga - FIC, Sena expõe uma breve trajetória da sua bem sucedida carreira no cinema.

Juliano: Qual o seu trabalho mais recente?
Maria Sena: A tradução do filme Lavoura Arcaica para o Francês.

J: Quais os cineastas que você admira e porque?
MS: Gosto de Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Roberto Farias, porque eles retratam de forma interessante a realidade social.

J: O que é o cinema?
MS: Cinema é noturno, é luz. É sonho lúcido. Cinema é informação, é segurança nacional. É tudo isso! Quando abrem as cortinas, apaga a luz, eu volto para dentro de mim. A fotografia do cinema acontece naquele momento de recolhimento.

J: Onde se produz o melhor cinema?
MS: Não tenho preconceito com o cinema de lugar nenhum. A arte é universal. Gosto muito do cinema produzido em Minas Gerais, porque assim como os mineiros, os filmes desse cinema são profundos.

J: Qual o maior desafio para o Cinema Nacional?
MS: É a distribuição. Falta vontade política do governo em resolver essa situação. Existem planos entregues nas mãos deles e eles não fazem nada, isso é uma história que tem mais de cinqüenta anos. Hoje o governo é pressionado a fazer mais, porém ainda a dominação nas salas é do cinema americano.

J: Não é falta de interesse também da sociedade em cobrar do governo uma postura mais rígida perante o cinema?
MS: Olha, eu sou de uma época que tinha cinema nas praças. Tinha discussão, uma discussão cultural muito mais rica e isso, lógico, impulsionava mais o interesse por assistir e ver boas histórias.

J: Você é revolucionária?
MS: Há muitos anos eu faço agitação cultural, promovo cursos de cinema; mostro para as pessoas que elas têm histórias e que elas podem fazer cinema com suas histórias. Esses cursos não são para ensinar, são para abrir a mente para esse tipo de debate.

J: Qual seu filme preferido e qual o filme que você assistiu ultimamente que lhe chamou a atenção?
MS: Meu filme preferido é A Intrusa ( 1979 ), de Carlos Hugo Christenssen e Walter Lima Júnior, esse filme que se passa nos pampas gaúchos fala com as imagens, não há diálogos. É Lindo! Agora, uma indicação? São tantas... Bom! Assisti no início do ano um filme chamado Fred e Louise. É uma produção Argentina, também muito bonito.




Maria Sena é uma cineasta múltipla. Dentro do cinema ou nas produções em vídeo, é apta a atuar como diretora, produtora e pesquisadora. Veja onde existe a assinatura da cineasta.


Filmes:
Gaigin – Os Caminhos da Liberdade ( Embrafilme/ 1978)
Eles Não Usam Black-tie ( Globo Vídeo/ 1981)
Bye, bye Brasil ( Embrafilme/ 1981)
Engraçadinha ( Paramount / 1981 )
Lua de Cristal ( Som Livre/ 1990)
Auto da Compadecida ( Columbia Pictures/ 2000)

Novelas:
Dona Beija ( Rede Manchete/ 1986 )
Kananga do Japão ( Manchete/ 1990 )
Pantanal ( Manchete/ 1990 )

Minisséries:
O Pagador de Promessas (Globo/1988 )
Incidente em Antares ( Globo/1994 )
A Madona de Cedro ( Globo/1994 )
Memorial de Maria Moura (Globo/1994 )
Amazônia ( Globo/2007 )