sexta-feira, 15 de agosto de 2008

AFONSO VIEIRA



A MÚSICA É MINHA AMIGA

Afonso Vieira. Sua primeira definição é de um geminiano que faz coisa bem feita. Nascido nas Minas Gerais, malabarista das vaquetas, digamos que você pode ler essa entrevista ao som de um Jazz. Música, aliás é sua alma, é dela e pra ela que ele vive, e faz desse viver uma aventura.

Juliano:Afonso, Porque você é músico?
Afonso Vieira: Pô! Pergunta do caralho. Sou músico porque a música entrou em mim desde que eu vim ao mundo. Meu pai tocava Jazz Band com meu tio, foi com esse tio que eu comecei a tocar. O meu primeiro instrumento, ainda no grupo escolar foi um arcodeon. Tive contato com outros instrumentos na casa de um amigo de infância. Depois, já maior, no Colégio Cataguases, vi no museu um berimbau; o diretor disse que se eu conseguisse tirar som daquele instrumento ele o dava pra mim, eu toquei e ganhei.

J:Tem quanto tempo que você faz da música o seu viver?
A.V: Bom, tinha aquele tio, que eu falei, o tio Vadinho. Ele viu que eu tocava bem e tocava muito. Me levava a bailes e foi então que e comecei a tocar bateria. Um dia teve um show da Sylvia Telles na minha cidade, ela me viu no local do show ajeitando a bateria pra banda dela, eu estava lá fazendo um barulho. Ela me perguntou `Como você consegue?` , e eu disse a ela, `Eu escuto disco, rádio´. Aí ouve um problema com o baterista da banda e ela me convidou pra fazer o show com eles. Sabe, eu tenho um modo diferente de sentir a música, eu não gosto de repetição. Eu gosto de criar.

J: E você foi em borá da sua cidade com a banda da Sylvia Telles?
A.V: Não. Algum tempo depois, em 1965 fui para o Rio. Morava em uma república com um poeta e um artista de teatro. Aí tem um caso engraçado, pois foi quando vi que precisava ganhar dinheiro, afinal vivia antes na casa da mãe, e a gente não tem que se preocupar com algumas coisas na casa dos pais. Pois bem, um dia a pasta de dente acabou e aí saí e comecei a rodar, tocar pra me sustentar. Meu primeiro trabalho foi com o Valdir Calmon, na boate Arpéje. Fiz muitos bailes, comecei a tocar com bons músicos. Trabalhei na Globo, na Ecelsius... Um dia eu estava no Leme e um pianista da banda da Elza Soares veio me chamar pra tocar com eles, a Elza tinha me visto tocar na TV. Fizemos muitos shows, viajamos muito. Participei do Festival da Record com ela, outro dia vi imagens desse festival na TV e até assustei, ‘Pô! Que esquisito, esse garoto na frente da orquestra, foi legal.
J: E outras pessoas foram vendo o seu trabalho...
A.V: Sim. Um empresário italiano viu aquilo e comprou os shows, fomos tocar no Teatro Cistina, em Roma.
J: E aí? De repente você está tocando no Rio, Brasil... O que você sentiu ao se apresentar em outro país, outra cultura?
A.V: Nunca me intimidei em nada, porque a música é minha amiga.
J: Você ficou muito tempo na Europa com a banda da Elza?
A.V: Rapaz, estava tudo indo bem pra caralho, até que a Elza resolve mudar de empresário, e deu merda. Disse ‘ Tô fora, quero a passagem para Roma’ , você sabe, né? Deu merda mesmo, quando me vi, estava no aeroporto com mochila, bateria, sem dinheiro. É isso mesmo a vida de músico, mas é legal. Só me perguntava ‘ Com o eu faço agora?’ , aí tinha uma prostituta, que era apaixonada comigo e ela era da alta, tinha grana e me salvou. Olha só! Aconteceu uma coisa, não sei se você acredita nessas coisas meio místicas, mas um dia apareceu um garotinho loiro e ele me deu uma estrelinha do mar, assim do nada, quando olhei de novo não o vi mais. Bom! Coloquei a estrelinha na bolsa, ela se desfez ali dentro, mas uma semana depois um produtor de Jazz bate na porta da pensão dizendo que precisava de gente pra tocar na noite que a Ella Fritgerard iria se apresentar. Os anos 70 começou assim pra mim, gravei discos, programas de TV na Europa... O Baden Powell morava em Paris, encontrava sempre com ele, a gente adorava tocar junto, comecei a tocar também com o Tony Scott; fui pros Estados Unidos, toquei lá também na Rádio City. Gravei um disco que foi muito premiado, O último Tango em Paris, toquei com George Adans, nossa muita coisa, muita gente...

J: Você gosta mesmo é de Jazz, é isso?
AV: Sim. Jazz! Mas é um Jazz que eu misturo com ritmos brasileiros.

J: Quem e o melhor Baterista do mundo?
AV: Não existe. Ninguém é melhor que ninguém. Existe na música um local aonde você quer chegar. Eu consegui chegar em festivas onde se reuniram os melhores músicos do mundo. Não existe o melhor, existe quem sabe fazer, quem não sabe e quem engana.
J: O que é o Jazz?
AV: Isso que eu falei, Jazz é uma reunião de músicos. Jazz é uma linguagem. Os grandes solistas de Jazz dizem que é a bateria, aquela base, aquele movimento de pulsação. Jazz é uma coisa espiritual.

J: Qual foi o seu melhor momento profissional?
AV: Foi uma noite em que eu cheguei num clube de Jazz e o saxofonista falou comigo, ‘É hoje! Eu quero tocar só eu e você’. E tudo veio na cabeça naquela noite, tocamos muito.

J: O que você está fazendo no momento?AV: Estou desenvolvendo um trabalho com o Pianista Márcio Hallack. Temos uma sintonia, eu e ele, ele pensa e eu já to.

Um comentário:

  1. essa entrevista ficou do caralho, como disse o próprio afonso, ou para os intimos, afonsinho... hehehehe
    ele mesmo já foi eleto com um dos dez maiores bateristas de todos os tempos segundo uma revista especializada que eu esqueci o nome... hehehe
    mais ele é foda! fui num show dele uma vez e pensei: isso é que é tocar um istrumento!!!

    já tive a honra de trabalhar com ele numa performance e foi incrível! ele arranca sons da bateria que vc não acredita!!!
    viva cataguases e suas óias como afonsinho

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